Gosto quando converso com
minha psicanalista porque ela sempre me mostra com um cuidado genuíno, que
minhas idéias não são simplesmente coisas da minha mente que não sabe descansar
e que simplesmente fica inventando motivos a mais que me façam perder o sono,
elas tem consistência sim.
Eu
queria dizer também que gosto quando ela me alivia à culpa, eu que segundo ela,
adoro absorver culpas que não são minhas, desfaço-me delas (ou tento) a cada
dia. A ultima que ela me tirou, foi uma que eu vinha trazendo agarrada a mim num abraço que me
esmagava os ossos devido a dor que eu sentia por tal proximidade. A mesma me
trouxe um agravamento súbito de minhas olheiras e um choro incontrolável, sem
hora ou local marcado para aparecer. Esse monstrinho que me perseguia se dava
pela crença infundada de ter ‘permitido’ que minha Rosa se fosse, como se a
responsabilidade do ocorrido fosse minha, como se eu não tivesse sido o
suficiente para mantê-la aqui, como se minha promessa de cuidado tivesse sido
em vão. Eu sei, eu sei. Sei perfeitamente o quão irracional isso parece para
aqueles que conheceram meus cuidados, mas acontece que essa dor e sensação vem
de um lugar que surgiu muito antes que eu sequer admitisse a possibilidade de
perdê-la. Vem de um lugar em branco, uma lacuna, um espaço que ninguém ocupou e
que é onde eu me enfio sem querer as vezes e aja Cristo pra me tirar de lá...
Ainda
nessas absolvições, me vejo menina com medo do escuro. Me vejo com medo do
estar só e acreditando ser apenas a solidão o que realmente possuo, é na mesma
que me refugio. Tenho sentimentos mudos. Nunca soube gritá-los. Nunca soube
como impô-los ou quem sabe simplesmente sussurrá-los em meio a um choro qualquer.
Acreditava eu – erroneamente – que a quem importava, saberiam lê-los.
Esqueci, ou simplesmente não me contaram, que nós somos seres diferentes, com
escrita e leitura de vida diferente. O que é necessário para mim pode ofender ou
machucar outro alguém, ou quem sabe, o que me parece petulante não deixa de ser
um mimo para outrem.
Sei
que mortes carregam consigo muito mais que um corpo, as vezes um tanto quanto
desgastado. Eu sei também, que quando perdi minha Rosa, coisas se perderam e
outras permaneceram suspensas no ar esperando que eu as reorganize. Tenho consciência
de todo amor que há em mim, e de toda vivencia da qual tive o privilegio de
desfrutar e de toda dor que a saudade dessas mesmas coisas que vão sempre me
acompanhar, mas em uma analogia rápida, queria dividir o que ouvi da boca da
minha psicanalista: há duas de mim em um mesmo corpo. Há aquela que quer ficar
em silencio, sem contato nenhum com o mundo, apenas quieta, observando o que
passou sem deixar que nenhum detalhe lhe escape. Essa, é justamente a minha
parte que não sabe o que pode significar ‘o dizer’, é a parte que fere por medo
de ser ferida, é a que vai embora por medo que a abandonem, é a menina com medo
do escuro – em poucas palavras. A segunda, quer apenas manter vivo o que de bom
aprendeu, quer deixar marcado na pele o símbolo do amor mais puro que poderia
ter recebido e doado, é essa a que levanta todo dia de manhã e não desiste do ‘acreditar’,
é quem quer manter o controle de si para que ninguém a controle, é quem quer
amar e construir o lugar que pretende dividir com quem esteja disposto a somar,
a acrescentar, a cultivar amor. A grande questão é o conflito, são as
oscilações, são as disputas pra ver quem fica no poder dessa vida, dessa mesma
vida que precisa ser colocada no eixo certo daqui pra frente.
Os
cuidados necessários podem parecer pequenos, mas os passos dados eu tenho ciência
de que já foram grandes. Dói a ausência de quem não posso trazer de volta, e a
saudade é um sentimento que transborda os olhos todas as noites e as vezes sem
hora marcada. O endurecimento pode ter sido apenas defesa. O mesmo muro que
antes já existia talvez tenha recebido algum acréscimo e o medo ainda esteja
latente, porem tudo que eu desejo do fundo da alma, é que esse muro seja
arrebentado, quebrado, destroçado por amor. Porque acredito eu, que por outro
motivo, ou outra maneira, ele só continuará crescendo.
‘Ela só quer que você sinta amor’
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