Há coisas em mim que
acredito que não existe quem as conheça alem de mim. São alguns tesouros,
alguns castigos, coisas das quais me orgulho ou me envergonho que nunca
comentei nem com meu travesseiro. Há algumas dessas coisas que ainda permanecem
como mistério até mesmo pra mim. Coisas essas que – ainda – não ouso olhar seja
por medo ou por simples zelo, cuidado com minha sanidade.
Preservo cada um desses
detalhes em prateleiras hipotéticas da minha memória às vezes um tanto quanto
falha, e as mudo de lugar quase que diariamente para que a poeira não tome
conta. À medida que as movo, entro em contato com elas, e assim fazendo acabo
por sanar a dúvida se existiram ou não porque as estou deixando de lado.
Tenho
medo às vezes do que lembro, mas também tenho receio de esquecê-las. A presença
constante da lembrança me parece tão ameaçadora quanto a possibilidade do
esquecimento total. Paradoxo? Por que não? Sempre os tive em uma escala
relativamente grande na minha vida. Mimada e madura, capaz de se cuidar, mas as
vezes mendigando cuidados, sou assim, composta de contradições, e talvez sejam
essas mesmas contradições que gerem certos encantamentos. Então me conte, o que
fez você se encantar por quem você chama de amor?
Aqueles
artefatos guardados sobre sete chaves penso que não serão divididos, como o
perfume de uma rosa ou o sabor de uma bebida quente em um dia frio em outra
cidade. Mas ainda há tanto a se compartilhar, a se conhecer e descobrir. Não creio
que ficar se lamentando pelo que não há possibilidade de encontro vá fazer com
que eu chegue até ela. Hoje acordei meio assim, realista, querendo estar em
contato com o que realmente é meu, mas como saber o que realmente me pertence? Talvez
o que realmente seja seu, seja tudo aquilo que você não pode dividir com ninguém:
suas lembranças.
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