- Queria entender porque escrevo essas
tantas cartas que nunca serão enviadas – mesmo sabendo que elas são lidas de
uma forma ou outra. Queria entender porque faço furacões, confusões e um
esforço enorme pra mudar e no final estou aqui escrevendo sobre a falta que
nunca passa dentro do meu peito. Queria por um instante ao menos saber a idade
que eu tenho: a de uma múmia ou de um recém-nascido, igualmente perdidos numa
estrada que não sei se volta pra casa ou se vai pra algum lugar longe demais
daqui, onde teoricamente você está. Dai surge outra vez aquela vontade de
gritar de que te falava, lembra? Simplesmente abrir os pulmões e deixar fluir
toda energia que minha terapeuta disse que passo a vida contendo... mas, vontades? Quando pude confiar nas minhas? Elas são tão mutáveis! Mas porque o são?
As vezes queria entender porque nunca tive a tranquilidade sonhada – ou não –
da monotonia. Confesso que as vezes sinto falta de pensar que eu ao menos
desconfio o que eu quero, porque o que eu quero ao mesmo tempo já não é um
querer mais e me confunde pensar que eu quis e agora me desfaço como se não me
importasse pra daqui a pouco me arrepender de ter desejado, tido e ido embora. Rotinas!
Tudo se resume a isso ultimamente, sei exatamente qual o ciclo que está em ação
e qual a próxima fala do ator/atriz que entrará em cena. Minha querida
terapeuta disse que talvez eu deva fazer algo que me dê entusiasmo, mas como se
tudo tem me entediado e hoje o que mais me faz flutuar são planos de um país
distante daqui um tempo que parece muito mais distante ainda dessa minha realidade confusa
que eu insisto em não desamarrar dos meus pés como uma grande bola de chumbo
presa ao meu tornozelo. E eu tenho culpa? Afinal não fiz como disseram que
precisava ser feito? Mesmo tremendo de medo do esquecimento enfrentei o luto da
Rosa e quando recebo elogios dizendo que quase o terminei de elaborar, minha
vida parece tão sem sal quanto os tons pasteis que a estão colorindo. De verdade,
não entendo. Não faz sentido, não faz sentido como a vida nunca fez sentido pra
mim. Não faz sentido como a saudade que sinto não faz sentido, quando o mundo
está de cabeça pra baixo e eu desisti de endireitá-lo. Se quero fugir? Quando não
quis? Sou totalmente adepta e a favor da fuga, afinal, fugi tanto tempo de você,
por que não posso continuar fugindo desses meus quereres distorcidos? Convençam-me que estou errada!
Nenhum comentário:
Postar um comentário