Desde que sonhei não paro de lembrar, desde que acordei não paro de pensar em como queria estar dormindo.
Eu adoro dirigir, mas não estou com um pingo de ânimo de ir pra esse fim de mundo. Desses de onde os pais saem pra ganhar o mundo, e depois nos obrigam a voltar lá. Hoje nada me parece mais atraente do que o meu quarto, do que o meu sofá, meus livros, minhas músicas chatas, meus travisseiros, minha cama. Estou em um desânimo que já entrou em estado de epidemia. Todos que se aproximam o absorvem. Todos que entram em contato estão desistindo de seus planos de mais tarde, pra ficar assim, com seu sofá, com suas músicas, com sua cama, com você mesmo. Acho que estou com saudades de mim. Estou com vontade de ficar aqui, estou com vontade de ficar assim, vontade de ficar comigo, vontade de ficar sentindo. Hoje quando eu olhei pra lua ela me pareceu tão linda, tão só, tão ela, e eu estava me sentindo tão assim, tão cheia, tão empaturrada de sapos engolidos, epurrados na verdade, guela abaixo. É isso mesmo, eu estou um saco! Nem eu estou me aguentando hoje, e poupando a todos vocês de minhas desagradáveis expressões faciais e palavras ácidas, estou preferindo ficar por aqui no meu canto. Também é fato que voltei a oscilar de humor, mas isso meus caros, nem eu sei dizer o porque, mas que me preocupa, preocupa. Eu tenho relido meus heróis preferidos, eu tenho relembrado meus moinhos de vento, e ainda estou tentando me convencer de que eles não são dragões - mas confesso que anda difícil. Tenho me sentido orgulhosa de ter separado a máscara de mim, e ter ganho novamente vida própria, mas tenho tido que arranjar energia extra pra manter ambas vidas em plena atividade. Manter viva a máscara que me convem e garante minha sobrevivencia em sociedade, e manter viva a mim mesma, pra que eu garanta a sobrevivencia de minh'alma. Talvez seja isso que esteja acontecendo, me sentindo exausta e tendo que escolher, escolhi alma. Preparei café com canela, redescobri aquele livro, reinventei aquela música e depois, redecorei as tonalidades da cor do meu teto, enquanto repassava todos os meus planos e revia se havia alguma falha ainda. Hoje decidi que quero ficar por aqui, só por hoje, só por mim, só por só, só aqui. E aqui estou, quieta, pensante, errante ou não, mas estou. Hoje eu me caibo, hoje eu me canto, e me desencanto. Hoje eu sei que besteira é não seguir o coração...
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