Tenho
uma memória que vez ou outra me trai, me deixando na mão quando preciso de um
semblante ou de um sopro de voz que me aproxime da minha Rosa. Ela quase que
diariamente me arrasta pra um lugar extremamente desconfortável e me coloca de
castigo como se eu estivesse sendo punida por algo que fiz de errado ou algo
certo que deixei de fazer. Não sei ao certo porque não a entendo. Ela me prega
peças e me confunde vez ou outra também, fazendo com que meus recalques se
tornem cada vez mais resistentes e o trabalho para a terapeuta cada vez mais
árduo, e eu me pergunto porque? Porque nos viramos de costas e nos esquecemos
do que evitamos olhar? Ou pior, nos viramos pra não ver, mas nossa vida
continua girando em torno do que evitamos entrar em contato... Outro paradoxo.
Essa
madrugada, descobri que escondi na memória partes da despedida da Rosa. Me esqueci
de pessoas, me esqueci dos contextos, me esqueci das conversas, eu me esqueci ali
e penso que possa ser por isso que me encontrar seja tarefa tão delicada e
trabalhosa. Eu me esqueci de mim no dia
que você partiu, me anulei no mundo real e passei a usar toda minha energia
vital em prol de mentir sua ausência. Sinto pena de mim por ter me iludido
tanto, mas me penalizo mais quando penso que esse foi o único movimento que consegui
fazer, uma vez que o eixo do meu mundo não estava mais no lugar que centrava e
equilibrava minha vida.
Sofro e choro sua ausência diariamente,
e chego a sentir a saudade lanhar minha pele e me fazer tremer de frio. Sofro e
choro o medo de estar pra sempre só, já que só estive por inteiro e confiei de
olhos fechados na Rosa. Choro todos os dias porque agora só tenho meu maior
tesouro dentro de mim e nessa situação abstrata não existe mais o abraço diário,
nem as bênçãos matinais pra que meu dia fosse lindo, quem dirá o olhar mais
protetor que me dava coragem pra enfrentar esse mundo que hoje parece de
gigantes. Porque a Rosa mais frágil era a maior força que já conheci, e eu
sinto falta sim porque não tem mais seu colo pra eu deitar no final da tarde
enquanto me contava alguma historia que provavelmente eu já havia ouvido umas
tantas dezenas de vezes.
Depois de algum tempo, eu penso que
entendi que chorar não é fraqueza, que sentir saudades em demasia não é culpa
porque deixei de fazer algo, ou quem sabe que reconhecer não querer ver ninguém
e ficar só, enquanto tento te resgatar na minha memória sacana é mais autentico
que me misturar por ai. Enfim, minha Rosa, estou com tanta saudade que meu
coração hoje tem o tamanho de um grão de café. Estou com tanta saudade que
quase sinto o perfume dos seus cabelos quando eu te abraçava. Hoje eu só queria
te dizer que te amo tanto, pra sempre!
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