sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sensação.


Incrível como determinados lugares podem parecer desabitados mesmo possuindo moradores regularmente frequentes. Um tempo parado dentro de cômodos cheirando a mofo, e um ar embaçado como que se tivessem se esquecido de respirá-lo. Os móveis estavam grotescamente empoeirados, mostrando ali a forma mais clássica de total abandono, de total descaso para com aparências inúteis. Assustava-me o frio dolorido, que entranhava a pele e a rasgava de uma forma tão melancólica, que eu me sentia um bebê desprotegido. A absoluta falta de vida ou a presença da pseudo-existencia daquele lugar me causava medo. Um tempo dentro de outro tempo; Horas arrastadas e minutos longínquos; Uma existência fajuta, ignorada pelos mortais da mesma estirpe; Parecia-me tão absurda aquela existência, parecia-me tão surreal tal possibilidade. Causava-me ânsia aquela sujeira acumulada, toda aquela nojeira guardada por puro masoquismo. Intrigava-me a capacidade daqueles seres amorfos conseguirem viver ali, me perguntava como o desejo de vida nova nunca haveria de ter brotado naquelas almas. Como se a tendência ao comodismo tenha se tornado com o passar do tempo, predeterminação. Como se fosse um mal sem cura, irremediável, e que agora apenas um sentimento caberia naqueles seres, a pena por si próprios. A agonia era tão grande que eu sentia vontade de correr, de sair fugida daquele lugar sem nem ao menos eu me despedir ou me justificar. O choque de estar ali era tão grande, que eu me via tão frágil, tão covarde, tão pequena. Eu não estava preparada para me deparar com ‘quase-humanos’, ‘quase-pessoas’, ‘quase-histórias’, ‘quase-vidas’. Me doeu a alma, eu senti todas as dores do mundo, e eu me prometi nunca permitir que minha vida chegasse naquele estado de deterioração, que meus sentimentos para comigo, nunca fossem de pena ou auto piedade, que eu me respeitaria e protegeria minha alma pra que ela não se tornasse mais uma alma sem sentido, sem razão para lutar contra predeterminações. 

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Saudades de Chuva



Não me procure. Não ouse me encontrar. Não me olhe, e se olhar, não me veja. Não me ligue. Não me ouça, e se acaso me escutar, entenda que você estará tendo uma vertigem, pois estou muda. Esqueça as promessas, e se ainda se lembrar, pense nelas como em um conto; por hora fora belo e agora, não são mais que ficção. Realize seus planos, mas não os encoste nos meus. 

Não suporto mais hipóteses vagas, e suposições hilariantes de tão absurdas que são. Não subestime minha inteligência. Não me faça sentir raiva por você. Não desrespeite meu espaço, não invada o meu mundo e depois saia em fuga, e também não espere que eu vá atrás de você.

Não me deseje, não me suje por felicidade instantânea. Não me traga flores, estou cansada de espinhos e enjoada de perfumes sedutores. Não espere que meu silêncio fale, não espere que ele tenha significados, não se desenhe entre minhas lacunas. 

Eu nunca quis organização, eu nunca quis o metódico, eu nunca quis o trem nos trilhos, eu nunca quis rimas perfeitas, eu nunca quis só dias de sol, eu nunca quis racionalidade. Se minha bagunça sempre só fez sentido pra mim... que eu seja sempre assim, mas que não deixe de ser eu.