sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sensação.


Incrível como determinados lugares podem parecer desabitados mesmo possuindo moradores regularmente frequentes. Um tempo parado dentro de cômodos cheirando a mofo, e um ar embaçado como que se tivessem se esquecido de respirá-lo. Os móveis estavam grotescamente empoeirados, mostrando ali a forma mais clássica de total abandono, de total descaso para com aparências inúteis. Assustava-me o frio dolorido, que entranhava a pele e a rasgava de uma forma tão melancólica, que eu me sentia um bebê desprotegido. A absoluta falta de vida ou a presença da pseudo-existencia daquele lugar me causava medo. Um tempo dentro de outro tempo; Horas arrastadas e minutos longínquos; Uma existência fajuta, ignorada pelos mortais da mesma estirpe; Parecia-me tão absurda aquela existência, parecia-me tão surreal tal possibilidade. Causava-me ânsia aquela sujeira acumulada, toda aquela nojeira guardada por puro masoquismo. Intrigava-me a capacidade daqueles seres amorfos conseguirem viver ali, me perguntava como o desejo de vida nova nunca haveria de ter brotado naquelas almas. Como se a tendência ao comodismo tenha se tornado com o passar do tempo, predeterminação. Como se fosse um mal sem cura, irremediável, e que agora apenas um sentimento caberia naqueles seres, a pena por si próprios. A agonia era tão grande que eu sentia vontade de correr, de sair fugida daquele lugar sem nem ao menos eu me despedir ou me justificar. O choque de estar ali era tão grande, que eu me via tão frágil, tão covarde, tão pequena. Eu não estava preparada para me deparar com ‘quase-humanos’, ‘quase-pessoas’, ‘quase-histórias’, ‘quase-vidas’. Me doeu a alma, eu senti todas as dores do mundo, e eu me prometi nunca permitir que minha vida chegasse naquele estado de deterioração, que meus sentimentos para comigo, nunca fossem de pena ou auto piedade, que eu me respeitaria e protegeria minha alma pra que ela não se tornasse mais uma alma sem sentido, sem razão para lutar contra predeterminações. 

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