quinta-feira, 16 de junho de 2011

Moinhos de vento até em sonhos.

Houve uma época da minha infância em que, por causa de sonhos ruins eu evitava dormir. Varava noites com medo dos assombros da madrugada, e não queria por nada me entregar nos braços de Morfeu. Me sentia cansada durante o dia, não brincava, não corria, sempre amedrontada pela noite que insistia em chegar, em me aterrorizar com suas figuras medonhas em silhuetas de pessoas conhecidas e eu sem proteção. Ninguém a minha volta sabia dos meus medos, me pareciam ridiculamente infantis e eu não ousava me espôr a chacotas, mas todos tinham plena consciencia de que por algum motivo eu não queria dormir. Me perguntavam, insistiam, e eu continuava calada. Ouvia dos adultos que sonhos não eram dígnos de tanto valor, e que não estavam presentes na minha realidade, e que por isso eu não deveria temê-los. Mal sabem eles o quanto eu temia, o quanto eu sofria, e o tanto que nao dever temer nem sofrer, era mais martirizante ainda. Um dia contei a avó o que ocorria que eu não queria mais dormir por medo de sonhar, e ela me disse que eu andava precisando rezar pro meu anjo da guarda. Eu rezei, noite após noite, e ainda sim os sonhos ruins vinham ao meu encontro, diferentemente do meu tao poderoso anjo da guarda. Entao desisti das rezas, desisti do anjo, e preferi me manter acordada. Foi quando minhas fantasias se tornaram reais, e meus assombros podiam ser vistos durante o dia. Eu vivia com medo, mas o tempo passou e eu me esqueci... Essa noite tive um sonho estranho, sonho esse que tem me intrigado até agora. Suas imagens ficam indo e vindo na minha cabeça e tem certos detalhes que por mais que eu tente, nao consigo me lembrar. Aquele lugar aparentemente feliz, do qual eu me sentia bem, mas insisti em me retirar, peguei minha moto dos sonhos (literalemente) e fui a uma chacara onde as pessoas se reuniam por algum outro motivo de festa, mas eu não os conhecia. Chovia tanto, era tanta água caindo do céu, uma tempestade numa intensidade tão forte e mesmo assim uma ideia latente não saia da minha mente, eu insistia em nadar no rio, em me enfiar na correnteza. Ninguém me impedia, ninguém negava minha vontade, mas todo mundo me olhava com olhos de contrariedade. E dentre todos os presentes, uma pessoa se destacava, uma única pessoa me abraçava e escondia nos seus braços por alguns intantes, vez após vez, e a minha vontade de ser abraçada só aumentava. O que me dói é nao lembrar quem era essa pessoa, é não conseguir ver o rosto de quem me acolhia. E mais dilacerante ainda, é ter consciencia de que a única pessoa que me acolhera me deixara teimar e ir pro rio, e ir pro perigo, e ir pro que seria minha condenação. Mas depois do sonho dessa noite, estou me sentindo como me sentia quando menina, aquela sensação de angustia voltara, e eu não sei se consigo esperar tanto tempo pra que ela vá embora...



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